Por Cláudia Nascimento
Como nômade que sou, estou acompanhando o andar destas
eleições em várias cidades, especialmente Rio de Janeiro, Niterói, Belém e,
onde moro, Boa Vista. Confesso que estou profundamente descrente de tudo, mas
alguns lampejos me animam e é na hora que tomamos fôlego que conseguimos caminhar
um pouco mais.
Rio de Janeiro e Niterói têm se tornado cidades estranhas
para mim: não me reconheço em seus rumos. Entristeço-me com isso, mas ainda quero
crer que o futuro deste País não é o quadro que se avista no horizonte,
assustador, porque o fade-out não aponta sequência desse filme.
Belém está num campo movediço e inconsistente: uma terra de
cego onde quem tem um olho é aleijado e, quem tem dois, é louco! A retórica
domina a eleição e termos como "assistência técnica", "plano
metropolitano", "instrumentos do Estatuto das Cidades" são
compreendidos como propostas de governo e não como ferramentas de gestão.
Apenas dois candidatos têm discurso compatível com a lógica de gestão de uma
cidade, mas um aporta como pirata, ou Robin Hood às avessas, roubando votos dos
esclarecidos que, no segundo turno, serão migrados para o grupo mais
conservador e retrógrado da Amazônia.
Sobre Boa Vista, tem-se uma aparente definição em primeiro
turno. Digo "aparente" pois estou vendo a partir do lugar onde estou e não da
zona oeste, onde se concentram o maior contingente populacional e problemas
urbanos e, de fato, a atual prefeita ainda não aportou obras relevantes para
aquela região da cidade: Boa Vista é linda, mas as questões socioeconômicas
colocam a cidade numa situação de encruzilhada (não de rotatória, muito comum
aqui) em que tem que se tomar rumos sérios.
Fonte: Estados e Capitais do Brasil |
Nesse sentido, o CAU-RR fez uma carta aberta aos candidatos a prefeitos e vereadores, que inspiraram a representação local. Vou falar pouco,
serei direta e objetiva: Boa Vista é uma boa cidade, mas tem muito para
melhorar. E digo mais: por falta de planejamento, gestão e governança que
entenda a cidade, está piorando a passos largos desde que cheguei aqui.
Não posso ser cega a isso, então colaborei com o Conselho de
Arquitetura e Urbanismo de Roraima para a construção da Carta Aberta aos
Candidatos a Prefeitos e Vereadores de Roraima.
Fonte: Museu Oscar Niemeyer |
Oxalá possamos contribuir de fato pelas nossas cidades!
A vantagem de estar sempre vendo as coisas com
distanciamento crítico e geográfico é também nunca estar em seu domicílio
eleitoral: o que me garante o direito de não votar.
* Cláudia Nascimento é arquiteta e urbanista, especialista em Semiótica e Artes Visuais, mestre em Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Patrimônio, Restauro e Tecnologia, professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Roraima. Compõe o Colegiado Setorial de Arquitetura e Urbanismo do Conselho Nacional de Políticas Culturais do Ministério da Cultura (CNPC/MinC).
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