sábado, 1 de outubro de 2016

Olhares estrangeiros de uma cidadã

Por Cláudia Nascimento

Como nômade que sou, estou acompanhando o andar destas eleições em várias cidades, especialmente Rio de Janeiro, Niterói, Belém e, onde moro, Boa Vista. Confesso que estou profundamente descrente de tudo, mas alguns lampejos me animam e é na hora que tomamos fôlego que conseguimos caminhar um pouco mais.

Rio de Janeiro e Niterói têm se tornado cidades estranhas para mim: não me reconheço em seus rumos. Entristeço-me com isso, mas ainda quero crer que o futuro deste País não é o quadro que se avista no horizonte, assustador, porque o fade-out não aponta sequência desse filme.

Belém está num campo movediço e inconsistente: uma terra de cego onde quem tem um olho é aleijado e, quem tem dois, é louco! A retórica domina a eleição e termos como "assistência técnica", "plano metropolitano", "instrumentos do Estatuto das Cidades" são compreendidos como propostas de governo e não como ferramentas de gestão. Apenas dois candidatos têm discurso compatível com a lógica de gestão de uma cidade, mas um aporta como pirata, ou Robin Hood às avessas, roubando votos dos esclarecidos que, no segundo turno, serão migrados para o grupo mais conservador e retrógrado da Amazônia.

Sobre Boa Vista, tem-se uma aparente definição em primeiro turno. Digo "aparente" pois estou vendo a partir do lugar onde estou e não da zona oeste, onde se concentram o maior contingente populacional e problemas urbanos e, de fato, a atual prefeita ainda não aportou obras relevantes para aquela região da cidade: Boa Vista é linda, mas as questões socioeconômicas colocam a cidade numa situação de encruzilhada (não de rotatória, muito comum aqui) em que tem que se tomar rumos sérios.

Fonte: Estados e Capitais do Brasil

Nesse sentido, o CAU-RR fez uma carta aberta aos candidatos a prefeitos e vereadores, que inspiraram a representação local. Vou falar pouco, serei direta e objetiva: Boa Vista é uma boa cidade, mas tem muito para melhorar. E digo mais: por falta de planejamento, gestão e governança que entenda a cidade, está piorando a passos largos desde que cheguei aqui.

Não posso ser cega a isso, então colaborei com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Roraima para a construção da Carta Aberta aos Candidatos a Prefeitos e Vereadores de Roraima.

Fonte: Museu Oscar Niemeyer

Oxalá possamos contribuir de fato pelas nossas cidades!

A vantagem de estar sempre vendo as coisas com distanciamento crítico e geográfico é também nunca estar em seu domicílio eleitoral: o que me garante o direito de não votar.

Cláudia Nascimento é arquiteta e urbanista, especialista em Semiótica e Artes Visuais, mestre em Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Patrimônio, Restauro e Tecnologia, professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Roraima. Compõe o Colegiado Setorial de Arquitetura e Urbanismo do Conselho Nacional de Políticas Culturais do Ministério da Cultura (CNPC/MinC).
** Clique aqui e leia outro texto de Cláudia Nascimento.

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