Por Éder Rodrigues
Na sociedade contemporânea do espetáculo, as imagens e os sons são elementos integrantes e 'quase' inseparáveis da vida social de nossa cultura ocidental. A mensagem visual e sonora produzida e registrada por meio de diversas plataformas pode ser óbvia, mas também pode ser sutil e subjetiva. A imagem pode ser entendida para além do olhar, assim como os sons não se limitam aos ouvidos. São locais e globais. São linguagens universais e não se enquadram em fronteiras. Imagens e sons também são patrimônios culturais.
Na perspectiva da complexidade do pensamento ameríndio e africano, base também da constituição sociocultural do Brasil, o visual e o sonoro ganham outros valores, para além da nossa limitada leitura ocidentalizada e insistentemente colonizadora da vida. Com a facilidade de acesso à tecnologia, os povos tradicionais também fazem seus sons e suas imagens. Temos o privilégio no Brasil de conviver com povos que mantêm um multinaturalismo, termo complexo, ainda por ser valorizado e reconhecido nas instâncias político-culturais.
O Estado de Roraima é um laboratório imagético e sônico. Por meio das imagens e dos sons, temos a possibilidade de viajar no tempo em que a Amazônia foi inventada, interpretada. Viajantes e cronistas desenharam uma realidade social, cultural e, sobretudo, estética. Temos a possibilidade de estudar o que ficou: registros, desenhos, gravuras, filmes, fotografias, dentre outras produções que revelam o quanto estes elementos podem contribuir para a construção ou desconstrução da história de um povo.
No entanto, falta abrigo para esta memória. É convergência entre as pessoas que se interessam pelo tema que, pouca mobilização e desinteresse político da sociedade atrapalham a reflexão deste tema. Este debate, no mínimo, precisa ter perspectiva política, sócio-histórica e antropológica. Artistas, pesquisadores, professores, estudantes, autoridades e a sociedade em geral têm discutido a importância de reunir estes elementos visuais e sonoros para ampliar o conhecimento e democratizar o saber. É importante pensar além das áreas culturais que preservem aspectos biológicos e coleções diversas.
No Brasil e no mundo, registram-se boas experiências de
espaços culturais com ênfase na segmentação, tornando-se museus disputados e
modernos, frequentados por pessoas não especializadas e por estudantes. É o
caso dos museus descobertos, por exemplo, pelas lideranças indígenas (PA, AM,
DF) em que a memória cultural dos povos indígenas vem sendo valorizada. Os
exemplos de Museus específicos no Brasil e no mundo mostram como a criatividade
de diversos segmentos culturais pode ser potencializada.
Roraima tem muito mais a oferecer. Mas precisa de inovação. Temos mais de 20 Museus da Imagem e do Som (MIS) instalados nas capitais brasileiras e neles são realizadas muitas atividades que favorecem o aprendizado. São museus contemporâneos, com cara de século XXI. São Museus que valorizam os aspectos locais de cada Estado.
Um dos modelos instituídos ainda nos anos 70,
é o Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS/SP), que hoje se constitui como
um espaço que reúne rico acervo (assim como a Cinemateca Brasileira de São
Paulo e o MIS/RJ), além de proporcionar diversão e entretenimento por meio de
exposições, eventos culturais consolidados e ainda o laboratório de Novas
Mídias, espaço focado na convergência de arte, ciência e tecnologia.
No
MIS/SP também são oferecidos cursos teóricos e práticos em diversas áreas como
cinema, fotografia, artes plásticas, dentre outros. O MIS/SP é vinculado ao Governo
do Estado de São Paulo. Neste sentido, outras capitais estão desenvolvendo
projetos similares, produzindo espaços de interação altamente qualificados. As
universidades, Estado, Município, colecionadores e a sociedade em geral
precisam ser parceiros neste processo, uma vez que o diálogo entre as
instituições é decisivo para que os programas sejam executados com qualidade.
O Estado de Roraima
precisa avançar quanto ao resgate da memória cultural a partir das imagens e
dos sons, considerando o debate que emerge da própria sociedade, para que não
se repitam fórmulas antigas, nas quais hoje se revelam em um conjunto de
prédios sem uso, que servem apenas para críticas, muitas vezes, carentes de
proposições e apontamentos para o futuro. Um projeto de Museu da Imagem e do
Som debatido e pensado pela sociedade é um ganho histórico para todos. Afinal,
precisamos de espaços culturais que dialoguem diretamente com nossa civilização
da imagem.
Leia outro texto de Éder Rodrigues aqui.
* Jornalista, sociólogo, especialista em Marketing e Linguagem Audiovisual. Membro da ABD&C Curta Roraima e da Rede Audiovisual de Roraima. Servidor da UFRR. Email: ederaudiovisual@hotmail.com
* Jornalista, sociólogo, especialista em Marketing e Linguagem Audiovisual. Membro da ABD&C Curta Roraima e da Rede Audiovisual de Roraima. Servidor da UFRR. Email: ederaudiovisual@hotmail.com