quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Audiovisual e política cultural prática

Éder Rodrigues*

A Associação Brasileira de Documentaristas e Curta Metragistas (ABD&C Curta Roraima) foi implantada em Roraima em 2004. De lá pra cá vem ocupando espaços importantes para proposição de projetos para desenvolver o cinema em Roraima.

A Rede Audiovisual de Roraima, movimento criado em 2015, também surge como um fórum de realizadores capaz de contribuir com o debate para formulação de políticas culturais destinadas ao segmento audiovisual. Juntas, as duas entidades fazem importante trabalho de mobilização e organização do cenário audiovisual no Estado.

Desta forma, o segmento vem crescendo, ganhando força e identificando uma demanda por mais formação em cinema, fomento e circulação de filmes produzidos por pessoas que moram no Estado. Muito estimula a categoria perceber o crescimento da produção independente e autoral. Cineastas, estudantes universitários e do ensino médio, publicitários, jornalistas e profissionais de diversos ramos da comunicação vêm produzindo obras diversificadas, revelando o Brasil do extremo norte, para além de rótulos socioculturais televisivos.

Bastidores do primeiro longa-metragem de Roraima, Remanescente das Sombras (2009), de Alex Pizano
O cinema e o vídeo permitem aos realizadores expressarem suas subjetividades, suas opiniões e leituras de mundo, apropriando-se das novas tecnologias digitais. Neste sentido, o curta-metragem serve como experimento de linguagem e a primeira experiência audiovisual para muitos apaixonados por cinema.

Mas, para que isso ocorra com mais efetividade, faz-se necessário o apoio estatal com financiamento local direto, além de qualificação e incentivo à captação de recursos em editais ou programas federais. É preciso pensar programas e projetos que favoreçam estas ações e não priorizar, por exemplo, a submissão de projetos ao marketing cultural de empresas privadas, como preceituam as leis de incentivo à cultura, sob o discurso retórico de renúncia fiscal.

Tal política exclui parte de um público que desenvolve ideias brilhantes, inovadoras, educativas, lúdicas, criativas e até revolucionárias que, no entanto (já temos histórico para isso), são desinteressantes para a “visão-reducionista-simplista-do-lucro-empresarial”, com raras exceções.

Necessário é o debate e a compreensão da riqueza da autoria e das novas subjetividades com as quais realizadores e outros artistas têm se destacado. Ao atender à demanda pelo estímulo à produção, todos ganhariam: o Estado, o sistema de ensino, o turismo, realizadores, público e a cultura regional.

Importante destacar que o movimento audiovisual em Roraima identificou cerca de 200 obras de curta, média e longa duração, produzidas de forma autoral no Estado. Com isso, temos um mapeamento do que está sendo produzido em Roraima. Esta construção se faz a partir do diálogo com realizadores locais, permitindo que o movimento audiovisual organize o perfil dos filmes produzidos, crie uma memória, assim como perceba as linguagens adotadas e o conteúdo trabalhado.


As informações estão divididas entre: 1) filmes produzidos a partir de oficinas e cursos; 2) obras autorais sem financiamento estatal e; 3) obras realizadas com financiamento. Os filmes de cunho “publicitário” ou “institucional” não entram neste processo. São inclusas na pesquisa, as obras de gênero ficção, documentário, animação e experimental, todas autorais produzidas desde os anos 80 até 2016. Há um longo trabalho ainda pela frente.  

Este trabalho visa, ao final do processo, valorizar a arte e os artistas locais. Novas ações de circulação e novos mercados também podem ser abertos com o reconhecimento desta produção e destes realizadores. O primeiro passo está sendo dado: organização do acervo fílmico com importante articulação coletiva.

* Jornalista, sociólogo, especialista em Marketing e Linguagem Audiovisual. Presidente da Associação Curta Roraima e membro da Rede Audiovisual de Roraima. Servidor da UFRR.

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