Éder Rodrigues*
A Associação Brasileira
de Documentaristas e Curta Metragistas (ABD&C Curta Roraima) foi implantada
em Roraima em 2004. De lá pra cá vem ocupando espaços importantes para
proposição de projetos para desenvolver o cinema em Roraima.
A Rede Audiovisual de
Roraima, movimento criado em 2015, também surge como um fórum de realizadores
capaz de contribuir com o debate para formulação de políticas culturais
destinadas ao segmento audiovisual. Juntas, as duas entidades fazem importante
trabalho de mobilização e organização do cenário audiovisual no Estado.
Desta forma, o segmento
vem crescendo, ganhando força e identificando uma demanda por mais formação em
cinema, fomento e circulação de filmes produzidos por pessoas que moram no
Estado. Muito estimula a categoria perceber o crescimento da produção independente
e autoral. Cineastas, estudantes universitários e do ensino médio, publicitários,
jornalistas e profissionais de diversos ramos da comunicação vêm produzindo
obras diversificadas, revelando o Brasil do extremo norte, para além de rótulos
socioculturais televisivos.
Bastidores do primeiro longa-metragem de Roraima, Remanescente das Sombras (2009), de Alex Pizano |
O cinema e o vídeo
permitem aos realizadores expressarem suas subjetividades, suas opiniões e
leituras de mundo, apropriando-se das novas tecnologias digitais. Neste
sentido, o curta-metragem serve como experimento de linguagem e a primeira
experiência audiovisual para muitos apaixonados por cinema.
Mas, para que isso ocorra
com mais efetividade, faz-se necessário o apoio estatal com financiamento local
direto, além de qualificação e incentivo à captação de recursos em editais ou
programas federais. É preciso pensar programas e projetos que favoreçam estas
ações e não priorizar, por exemplo, a submissão de projetos ao marketing
cultural de empresas privadas, como preceituam as leis de incentivo à cultura,
sob o discurso retórico de renúncia fiscal.
Tal política exclui
parte de um público que desenvolve ideias brilhantes, inovadoras, educativas,
lúdicas, criativas e até revolucionárias que, no entanto (já temos histórico
para isso), são desinteressantes para a “visão-reducionista-simplista-do-lucro-empresarial”,
com raras exceções.
Necessário é o debate e
a compreensão da riqueza da autoria e das novas subjetividades com as quais realizadores
e outros artistas têm se destacado. Ao atender à demanda pelo estímulo à
produção, todos ganhariam: o Estado, o sistema de ensino, o turismo, realizadores,
público e a cultura regional.
Importante destacar que
o movimento audiovisual em Roraima identificou cerca de 200 obras de curta,
média e longa duração, produzidas de forma autoral no Estado. Com isso, temos um
mapeamento do que está sendo produzido em Roraima. Esta construção se faz a
partir do diálogo com realizadores locais, permitindo que o movimento
audiovisual organize o perfil dos filmes produzidos, crie uma memória, assim
como perceba as linguagens adotadas e o conteúdo trabalhado.
As informações estão
divididas entre: 1) filmes produzidos a partir de oficinas e cursos; 2) obras
autorais sem financiamento estatal e; 3) obras realizadas com financiamento. Os
filmes de cunho “publicitário” ou “institucional” não entram neste processo. São
inclusas na pesquisa, as obras de gênero ficção, documentário, animação e
experimental, todas autorais produzidas desde os anos 80 até 2016. Há um longo
trabalho ainda pela frente.
Este trabalho visa, ao
final do processo, valorizar a arte e os artistas locais. Novas ações de
circulação e novos mercados também podem ser abertos com o reconhecimento desta
produção e destes realizadores. O primeiro passo está sendo dado: organização
do acervo fílmico com importante articulação coletiva.
Para ler mais textos de Éder Rodrigues sobre políticas públicas para o audiovisual clique nos links abaixo:
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