quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Por mais imagem e som: museu, memória e futuro (parte 2)

Éder Rodrigues*

Compreender os processos e os agentes de socialização é atribuição das Ciências Sociais, atividade impossível de se realizar se não estiver atrelada a disciplinas como a Sociologia e a História. Com elas, é possível refletir sobre o espaço-tempo em que se dão os processos sociais. Da mesma forma, registros audiovisuais são importantes testemunhos e documentos de uma época. Instrumentos úteis para reflexão destes processos.

O arquiteto Darcy Romero Derenusson, ministrou a aula magna no segundo semestre de 2016 da Universidade Federal de Roraima (UFRR), tratando da construção do plano radial concêntrico da cidade de Boa Vista (RR), nos anos 40, sob o governo local do capitão Ene Garcez, na era Vargas. Na aula, o público fez uma viagem imaginária por meio das fotografias daquela época feitas pelo pai do arquiteto. Um acervo importante.


Antes disso, em 1924, o médico e geógrafo americano Alexander Hamilton Rice viajou para o extremo norte do Brasil trazendo um hidroavião e um barco a motor. Dentre inúmeras e belas fotografias aéreas, registrou o que seria a cidade de Boa Vista. Seu trabalho de pesquisa, como escrito no livro dele “Exploração na Guiana Portuguesa”, foi um dos motivos para se criar o Instituto de Geografia e Estatística da Universidade de Harvard (EUA). Um acervo importante.

Antes disso, o etnógrafo alemão Theodor Koch Grünberg, em 1911, quase duas décadas depois da criação do primeiro experimento cinematógrafo na França pelos irmãos Lumière, trouxe um exemplar do equipamento para o extremo norte do Brasil e filmou os índios locais. Muitas fotografias também foram feitas e algumas publicadas na obra seriada em três tomos “Do Roraima ao Orinoco”, que só chegou na versão portuguesa em 2006, pela Editora da UNESP. Um importante acervo fílmico e fotográfico.

Muito antes disso, de 1783 a 1792, o naturalista luso-brasileiro, Alexandre Rodrigues Ferreira e seus pintores, no estilo renascentista, registraram em telas aspectos sócio-ecológicos da região Amazônica, publicados nos tomos da obra “Viagem Filosófica”.

Para além desta “Amazônia Caribenha”, muitos outros personagens contribuíram com seus registros fotográficos e fílmicos por toda a Amazônia, sobretudo, na virada do século XIX para o XX. Dentre eles: Ermanno Stradelli, Albert Frisch, Walter Hunnewell, Felipe Augusto Fidanza, George Hüebner, Henri Anatole Coudreau, Marechal Rondon e, talvez, o que mais se destaca pela sua obra fílmica: Silvino Santos.

Tais registros estão espalhados em vários lugares do mundo, em centros culturais, bibliotecas públicas e privadas pelo Brasil. São mais que registros. São importantes documentos históricos que, acessados, contribuem para educar o olhar de estudantes e pesquisadores sobre esta região.

Os meios de comunicação são, sem dúvida, os agentes de socialização que mais ‘educam’ (além da família e escola) na contemporaneidade. Presentes em espaços públicos e privados, cinema, vídeo, televisão, fotografia, rádio, internet, telefones celulares e impressos são os meios mais eficazes e persuasivos da nossa sociedade ocidentalizada. A história é contada neles e por eles, assim como as opiniões são formadas a partir deles.

A pergunta que fazemos, portanto, é: como reunir este material, classificar, socializar e permitir um olhar múltiplo, plural e crítico? A importância da criação de espaços institucionais adequados à difusão deste conhecimento é latente em nosso estado. Nossa proposição, já exposta em textos anteriores, é a necessidade da implantação de um Museu da Imagem do Som, experiência exitosa de longas décadas no Brasil.

No entanto, pensar uma política para o patrimônio cultural, com vistas a manter a memória acessível a todos precisa estar na pauta dos gestores públicos e de profissionais e pesquisadores em uma dimensão interdisciplinar e pedagógica. Um futuro que necessita de conhecimento deste “passado” e, fundamentalmente, de ação no presente.



* Jornalista, sociólogo, especialista em Marketing e Linguagem Audiovisual. Presidente da Associação Curta Roraima e membro da Rede Audiovisual de Roraima. Servidor da UFRR.

Clique aqui para ler o artigo Por mais imagem e som: museu, memória e futuro (parte 1)

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