terça-feira, 17 de outubro de 2017

Boa Vista: podemos te dar um Conselho? (Parte 2)

Éder Rodrigues*

Um Conselho Municipal de Políticas Culturais é o fórum ideal para discutir o investimento em cultura e contribuir com um plano mínimo que democratize o acesso aos recursos públicos, fazendo crescer e aparecer a cultura plural de uma cidade.

É por meio dele que podemos também compreender que o artista cria e recria o mundo. Aliás, um mundo “Outro”. Mais intenso, mais significativo ou mais provocativo. Em resumo: menos sem graça.

Na contramão disso, vemos no cotidiano de Boa Vista, o investimento na reprodução de um modelo da chamada cultura de elite. Elites são fechadas em seu mundo e não pensam em classes sociais. Estão em um mundo limitado, alienado, reduzido a uma “arte espetáculo”, sob a velha desculpa que “isso já ocorre há muitos anos”.

O que dizer do mundo real? Boa Vista, como o Brasil inteiro, tem na diversidade sua maior riqueza. Exemplo disso no âmbito local é o crescimento gigantesco dos movimentos de cultura urbana ou arte urbana.

Coletivos como: MakuX, AbankaToda Rap, V.A.N Crew, Movimento Urbanus, Duclan Rap, assim como estudantes e professores universitários, dentre outros interessados, surgem com as mesmas demandas – recriar o mundo pela arte. Todos refletem uma cidade cujo espaço urbano proporciona novas relações sociais e artísticas. E vice-versa.

Os conceitos de “centro” e “periferia”, na perspectiva urbana, podem existir para explicar a “desigualdade” (observemos Boa Vista que é um laboratório ao ar livre sobre isso). Mas não servem para explicar as “diferenças”.

Gestores públicos parecem não entender o meio vivido por estes movimentos culturais e, por isso deixam também de compreender o lugar. Todos os lugares são centros de fenômenos da experiência humana. Os movimentos artísticos urbanos sabem disso.
Fonte: Divulgação/Folha Web
O sucesso do Circuito Tom Souza de Skate realizado em Boa Vista, com o campeonato de skate e que contou com a batalha de MCs e Grafites na homenagem a este líder do movimento Long Board; a seleção para o duelo de MCs categoria nacional; a realização do ‘Grafita Roraima’ pela Universidade Federal de Roraima, que tem reunido artistas da Venezuela e Roraima, já formam um público de quase duas mil pessoas, se somados todos estes eventos realizados recentemente.

São números que confrontam o discurso oficial do poder público municipal, que tem ainda em festas como natal, arraial, carnaval e agora “motocicletas” um olhar carinhoso e bem generoso. Estes merecem apoio sim. Mas e os outros?

Nossos aplausos vão para todos os artistas que fazem do dia a dia, da rua, das praças, das escolas e universidades seu campo de ação. Que venham mais intervenções urbanas, mais performances, mais consciência e um Conselho Municipal de Políticas Culturais competente.

* Jornalista, sociólogo, especialista em Marketing e servidor da UFRR.

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