Era uma vez, doze irmãos. Cada um tinha o
nome de um mês do ano: Janeiro, Fevereiro, Março, Abril, Maio, Junho, Julho,
Agosto, Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro. Eles moravam no campo, com o
pai e a madrasta.
O pai era bondoso, mas tinha pouco tempo
para os filhos, porque trabalhava dia após dia na roça, para poder alimentar
tantas bocas. Porém, sempre que voltava do trabalho, trazia alguma coisa para os
filhos: macaxeira, batata-doce, jerimum. Era uma festa! Faziam muita arte juntos.
Quando o pai saía de casa voltava o
tormento. Os curumins ficavam sob os cuidados da madrasta, que não gostava
nenhum pouco deles. A megera amava somente uma criança: seu único filho
biológico entre os doze, Junho. Por isso, quando o marido ia trabalhar, ela e o
filho predileto comiam quase tudo o que havia em casa e a madrasta escondia a
comida que sobrava. Deixava as outras crianças com fome. Quanto olho grande!
Quando o pai precisou fazer uma longa
viagem, a coisa ficou pior: os curumins não tinham quem olhasse por eles e se
viam obrigados a caçar comida sozinhos no mato, para não morrerem de fome.
Um dia, encontraram, sem querer, a roça
do pai. Lá, o milharal estava dando frutos. Felizes da vida, eles colheram tudo
o que podiam e levaram para casa. Pelo menos, naquela janta, tiraram a barriga
da miséria.
Mas, assim que acordaram, no outro dia, viram
que o pior acontecera. Alguém comera todo o milho que havia sobrado. E não era
pouco! Dava para alimentar a família inteira por um tempão. Os sabugos depenados
estavam jogados pelo chão da casa.
― Quem teria feito isso? ― perguntou
Agosto, desgostoso.
Nesse momento, Junho apareceu bocejando
na cozinha.
― Foi você? ― perguntou Agosto ao
meio-irmão.
Junho tentou negar, mas foi traído pelo
seu sorriso amarelo, literalmente. Entre seus dentes ainda era possível ver
pedaços de milho cozido. Pego com a boca na botija, ele saiu correndo. Os
irmãos correram atrás. Ele entrou no quarto e se escondeu debaixo da cama da
mãe.
― Madrasta, o Junho comeu o milho todo ―
acusaram.
Ela parecia estar com muito sono, porque
mesmo com todo aquele barulho nem se mexia na cama, sob os lençóis. Abril, um
dos irmãos mais velhos, puxou, então, o lençol e, para a surpresa de todos, a
madrasta não estava lá. No seu lugar, havia uma pilha de milhos escondida.
― O que é que vocês estão fazendo aqui?
― perguntou a madrasta, ao entrar pela porta do quarto.
A mulher estava terminando de comer os
últimos grãos de milho cozido do sabugo que trazia na mão. Os meninos entenderam
que não adiantava reclamar de Junho para ela, por que a madrasta também comera
os milhos que eles trouxeram para casa.
― Não digam nada ao pai de vocês ou vão
se ver comigo! E se deem por satisfeitos por não levarem uma surra de mim.
As crianças começaram a chorar.
― O que está acontecendo aqui? ―
perguntou o pai.
― Marido? Você não estava viajando?
― Sim, mas precisei voltar mais cedo.
O pai ficou a par de tudo o que
acontecera na sua ausência. Resolveu acabar com o casamento. A mulher foi
embora na sua vassoura. Ela era uma bruxa. Arrependido, Junho pediu desculpas
aos irmãos. Compreendeu que merecia comer tanto quando todos os outros da casa.
O pai passou a cuidar dos filhos com mais carinho e nunca mais deixou alguém
tratá-los mal. Daí em diante, nunca mais passaram fome e viveram felizes para
sempre.
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