sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Bota a mão na cabeça, candidato, e respeita o compositor!

Não tem aquela música que tá bombando nas paradas, mas que você ouviu em algum lugar com uma letra bem diferente e que falava pra todo mundo votar no candidato sei lá o quê?

Agora imagina que o compositor da música original não autorizou nem recebeu um centavo para que nascesse essa pérola da música brasileira.

Fonte: Elo7

Sabe como se chama isso?

Plágio ou crime contra os direitos autorais, como você preferir.

Fonte: Neura Digital

É, amigo(a), usar comercialmente a criação intelectual de alguém sem autorização é crime, ainda que se trate de paródia.

A coisa pega ainda mais quando quem comete esse crime é alguém que pleiteia ocupar um cargo público que terá como papel executar leis (prefeito/a, por exemplo) ou criar leis e fiscalizar a aplicação delas (vereador/a, por exemplo).

Nestas eleições, ouvi, aos montes, jingles eleitorais de candidatos que, duvido muito, tenham pago os direitos autorais, como manda a lei.

Fala sério! Como é que se pode confiar num político desse que comete crimes antes mesmo de se eleger? Ô, bichinho(a) apressado(a)...

E você, diga a verdade, ouviu nesta campanha algum plágio descarado?

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

A gente não quer só comida, a gente quer políticas públicas de financiamento da cultura já!

Por Thiago Bríglia

Vários representantes de segmentos artístico-culturais que formam o coletivo Reagentes Culturais estiveram reunidos no dia 26 de setembro com o vice-presidente da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa de Roraima, deputado Evangelista Siqueira (PT/RR), para tratar do orçamento da Cultura Estadual para 2017.

A reivindicação principal do coletivo é o fomento à produção e à difusão artística, além do estímulo à preservação das memórias e saberes culturais, através de investimentos orçamentários no Fundo Estadual de Cultura e a criação de editais públicos para cada segmento.


Vamos acompanhar os próximos passos.

* Thiago Bríglia é um dos articuladores do coletivo Reagentes Culturais e outras tantas coisas demais para colocar numa nota de rodapé. Mas se você quiser conhecê-lo um pouco mais, leia este outro texto dele.

domingo, 25 de setembro de 2016

"Pra casa com goteiras, pintamos as paredes" – vamos falar de reforma

Por Elimacuxi

O tema da semana foi a famigerada MP da Reforma do Ensino Médio, que prevê mudanças importantes naquele nível de ensino, como a determinação do aumento substancial de sua carga horária, por exemplo. Confesso que tive preguiça de me pronunciar sobre o tema. Entre milhares de opiniões de ‘especialistas’ de rede social, viu-se, como tem acontecido com praticamente todas as questões relevantes do Brasil nos últimos meses, um debate esvaziado que pode ser resumido da seguinte forma: enquanto muitos rechaçavam as mudanças, outros repetiam insistentemente que o projeto “era da Dilma”.

Fiquei pensando sobre o que essa discussão empobrecida revela: não são poucos os que terminam o ensino médio sem a menor ideia, por exemplo, de como funciona o Estado brasileiro ou de como foi construída a nossa jovem e frágil democracia, servindo mais facilmente de massa de manobra aos mais escusos interesses. Creio que muitos dos que afirmam que Michel Temer apenas deu andamento às propostas do governo Dilma  embora tenham razão no que diz respeito a algumas mudanças propostas  ignoram a diferença fundamental entre as duas formas de buscar implementá-las legalmente: Projetos de Lei (que podem ser feitos pelo poder Legislativo, pelo poder Executivo e/ou por iniciativa popular), são textos que apresentam propostas que devem passar pela apreciação dos Deputados, podem ser discutidos em comissões especiais na Câmara e necessitam de aprovação no plenário para entrar em vigor, tornando-se leis de fato. Medidas Provisórias, ao contrário, são basicamente um tipo de Decreto Lei, uma forma encontrada pelo nosso peculiar sistema político, para permitir que o poder Executivo legisle. As MPs, como são chamadas as leis desse tipo, entram em vigor imediatamente à sua publicação pelo governo. Diante disso, preparar um projeto de lei, como o governo Dilma vinha fazendo, é algo totalmente diferente de baixar uma MP, como fez Temer. Penso que, num país democrático, mudanças capazes de impactar a vida de milhões de jovens e de boa parte dos servidores públicos de Municípios, Estados e União, não deveriam ser feitas sem um longo debate, jamais deveriam ser baixadas por decreto ou Medida Provisória. Tem mais: uma Medida Provisória, como a MP da Reforma do Ensino Médio, tem força de lei, mas pode deixar de ter validade se não for aprovada pelo Congresso dentro do prazo de dois meses. Então, pode-se dizer que o governo determinou alterações que, em dois meses, podem mudar de novo.

Sobre o conteúdo da MP, há quem considere que pontos da Reforma, como a flexibilização da obrigatoriedade de algumas disciplinas (educação física, artes, filosofia, sociologia) vai aumentar o interesse e permitir maior participação dos estudantes, aproximando nosso sistema do que acontece nas High School americanas. Mas há quem lembre que as disciplinas afetadas pela flexibilização são exatamente aquelas que foram excluídas do currículo durante a ditadura, que apenas muito recentemente voltaram a figurar como obrigatórias no ensino médio. Estes consideram a medida um retrocesso, que terá como resultado prático a exclusão dessas disciplinas do currículo.

O aumento proposto da carga horária do ensino médio também não é consenso, sobretudo quando se questiona sobre como isso será implementado de fato. Há quem pondere que, ao estabelecer o ensino médio em tempo integral, o governo praticamente tornará inviável o estudo para aqueles jovens de classe mais baixa que necessitam trabalhar. Para muitos, o ponto mais sensível da Medida Provisória é o que abre mão da exigência de formação específica do professor para ministrar as disciplinas, o que implicaria em maior precarização das condições de trabalho e da carreira docente.

O que todos concordam é que o ensino médio precisa de mudanças. Trabalhei nesse nível de ensino por mais de uma década e listei alguns dos problemas que me parecem mais sérios: em termos de currículo, muitas vezes ocorre a mera repetição de conteúdos estudados no ensino fundamental, a distribuição da carga horária entre as disciplinas é feita de modo arbitrário e a desejada interdisciplinaridade ainda não se tornou uma realidade nas salas de aula; os estudantes são pouco ouvidos no processo de organização do ensino-aprendizagem e possuem pouca ou nenhuma autonomia no que diz respeito ao que podem ou devem estudar; faltam profissionais especialistas nas diversas áreas para ensinar – não é raro que turmas passem o ano todo sem professor de química, ou física, ou artes; falta vontade política para pagar o piso salarial dos professores em todo o Brasil, nas redes estaduais e também na rede privada de ensino, onde se opta por pagar ‘hora-aula’; a carreira docente é desvalorizada, falta incentivo aos jovens que estudam em licenciaturas, assim como falta incentivo aos professores para a formação continuada; a infraestrutura da maior parte das escolas se resume a salas de aula com quadros e carteiras, não há biblioteca, não há inovação tecnológica, não há ludicidade e todo o espaço fica muito aquém do que se necessita para educar de verdade. Tais problemas são estruturais e, reparem, não são atacados pela reforma...

A precarização da profissão docente é um dado histórico em nosso país e começa na formação oferecida pelos governos que criam mecanismos para formar licenciados a toque de caixa, com pouco investimento. É o que se assiste desde a criação das licenciaturas curtas, durante a ditadura civil-militar, até o Parfor e outras iniciativas presentes hoje. Além disso, a segunda metade do século XX viu o despencar dos salários dos professores. Por outro lado, a ampliação da rede de ensino e inclusão da maior parte da população jovem nas escolas trouxe o aumento das cobranças que se impõem a esses profissionais. A Lei que definiu o piso salarial para professores no Brasil tem apenas oito anos de existência e embora o piso não chegue a três salários mínimos, ainda não é cumprida por boa parte dos estados e municípios. Os resultados dessa política são tenebrosos e de longo prazo: profissionais frustrados, sem condições de exercer com dignidade a sua profissão, jovens talentosos fugindo da docência para outras carreiras, constante desvalorização do papel do professor, como na previsão de permitir que professores sem formação específica possam atuar no ensino médio. Estamos na contramão do que ocorre nos países com melhor educação no mundo, que exigem formação continuada e treinamento especial para o cargo,  professores trabalham com número limitado de estudantes, recebem boa remuneração por seu trabalho, possuem relativa autonomia em relação aos seus métodos de ensino e, sobretudo, são profissionais que contam com grande respeito por parte da sociedade.      

Para a professora de história que sou, que pensa educação de forma integral e continuada, incomoda a diminuição da importância das disciplinas de filosofia, sociologia, artes e educação física. Essas áreas do conhecimento são fundamentais para a formação do jovem, sua constituição identitária, sua saúde e construção de senso crítico. Filosofia, sociologia e artes são as áreas do conhecimento que melhor questionam, desnaturalizam e ajudam a ver o mundo para além do óbvio. Na contemporaneidade, em que o interesse é a produção e a reprodução de consumidores subservientes, tais conhecimentos não servem para ganhar dinheiro. Mas estamos falando de formação. Não nos interessam jovens que saibam promover a problematização das questões políticas, econômicas, sociais?


Fonte: www.medicaldaily.com. Shutterstock.

Para encerrar sem ficar em cima do muro, creio que se equivoca quem pensa que, com essa reforma, as salas de aula do ensino médio brasileiro vão se transformar em cenários do High School Music ou mesmo de Malhação. Para além da empobrecida discussão sobre quem é pai ou mãe da reforma, antes que comecem a me chamar de petralha e outros adjetivos aos quais até já me acostumei, queria lembrar que há, aqui, uma questão crucial sobre nosso futuro, pois educação é coisa séria, um dos pilares fundamentais na construção da riqueza cultural, social, política e econômica de um país.

* Elimacuxi é professora e poeta; atualmente ensina história e crítica de arte no curso de Artes Visuais da UFRR.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Vote no projeto de lei que institui a Política Nacional de Leitura e Escrita [coluna Letras Políticas]

Ele não é candidato nem a vereador, nem a prefeito, mas precisa muito do seu voto. O PLS 212/2016, que institui a Política Nacional de Leitura e Escrita, está em tramitação no Congresso e abriria aquele sorriso se você acessasse este link na página do Senado Federal e clicasse em A FAVOR.
Vote
Como já dissemos em outro blog, esse projeto é fruto de um amplo e longo debate entre a sociedade civil organizada e o Poder Público, que, entre outros, rendeu frutos como o Plano Nacional do Livro e Leitura, instituído em 2006.
Alguns dos objetivos do projeto são democratizar o acesso ao livro; fomentar estudos e indicadores nas áreas do livro, da leitura, da escrita, da literatura e das bibliotecas; desenvolver a economia do livro; promover a formação profissional nos segmentos criativo e produtivo do livro e mediador da leitura; e incentivar a criação e a implantação de planos estaduais e municipais do livro e da leitura.
E olha só: se tudo der certo, daqui a algum tempo você poderá dizer que ajudou a criar a política de leitura e escrita do Brasil. Está nas suas mãos...

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Vote na cultura [coluna Letras Políticas]

Tudo bem que são importantes saúde, educação e segurança, mas que tal, nestas eleições, colocar a cultura na sua lista de prioridades? Deixe de lado aquele discurso questionável de que arte e cultura são puramente entretenimento e futilidade.
A cultura é um importante seguimento da economia. Comprar um livro é mais que fazer lucrar um escritor. Significa gerar renda e fazer circular capital também para ilustradores, revisores, diagramadores, livreiros, contadores de histórias, em lugares diversos como editoras, livrarias, bancas de jornal e revista, e bibliotecas.
Na hora de escolher seu candidato a prefeito e vereador, analise as propostas dos pretendentes para o desenvolvimento da cultura, além do histórico e do conhecimento nessa área. Veja se ele tem propostas sólidas para criar/fortalecer o sistema, o plano, o fundo e o conselho municipal de cultura, para o lançamento contínuo de editais públicos por segmentos específicos, e para o fomento da participação da sociedade civil na construção das políticas públicas do setor.
Em 2016, leve a cultura para a urna eletrônica e ajude a fazer uma cidade melhor.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

O RAP, OS NEGROS E O BRASIL

Por 7niggaz

Não é segredo para ninguém que no Brasil mais de 50% da população é negra. Também não é segredo para ninguém que o rap hoje entre os adolescentes e jovens é o estilo musical mais ouvido, até mesmo em Boa Vista. Basta sair nas ruas para perceber esse fato.

Mas cadê a devida valorização, tanto para o rap, quanto para os negros? Falo assim porque, as “pessoas” querendo, ou não, o rap, juntamente com o reggae, em nível mundial, é o estilo musical que mais representa os negros e que os enaltece, sendo, no meu ponto de vista, como uma joia para nós, povo negro, já que fomos nós que o criamos.

O Brasil, em contrapartida, vai na contramão disso. Quando falo o Brasil, falo da mídia que manipula mentes e, ao mesmo tempo, não aceita o poder paralelo do rap, e também das políticas públicas que só aceitam de bom grado o rap e a cultura hip-hop quando é pra fazer nome em cima dele, ou até mesmo para fazer projetos para trazer verba para um município e, no fim, não aplicá-la, desviando, coisa que vivenciei em um projeto social de uma cidade que não vou dizer qual é (mas dou uma cocada preta pra quem adivinhar). Desvio de recursos que saem dos nossos bolsos é coisa inaceitável, feita por pessoas de má fé, que se dizem administradores do dinheiro público.

Enfim, embora haja tudo isso para atrapalhar o processo todo, o rap nunca dependeu diretamente de governos, nem de ONGs. Até porque o rap é maior que todos eles, a meu ver, pois resgata e transforma, além de divertir de forma tão natural que não tem  como parar.

O jovem gosta de rap, rap aumenta o Q.I., te dá conhecimento, te faz ter e criar opinião. É como sempre falo: o rap é paralelo e isso se comprova no fato de que hoje é o estilo mais tocado no mundo, e no Brasil, um dos mais tocados. Ainda não nas rádios e TVs, mas na rua e nas casas e nos fones de ouvidos. Não tenha dúvidas disso.

E, assim como aconteceu nos EUA, é uma questão, não mais de tempo, mas, sim, de resistência da mídia. Vamos ver até onde rádios e TVs vão aguentar antes de abrir as pernas para a música que saiu das ruas e tomou todas as classes. Afinal hoje é tão comum ver o playboy, no seu carrão, tremendo tudo com um bom rap.

Mas a questão x mesmo que reforça ainda mais a certeza de tudo o que falei é a continuidade do crescimento de identidade com o estilo musical por parte de nós, que somos donos e criadores dele. Quando isso acontecer, em grande maioria, não seremos mais afetados pelas roubalheiras do sistema ou pela resistência da mídia. Por que aí sim, estará construído o poder paralelo, e acreditem: isso vai acontecer mais rápido do que a maioria espera.


Deixo aqui uma frase: “negros valorizem o que valoriza vocês”.
Tamo junto, daqui 7niggaz, ABANKATODA, ABANKA sempre ganha!


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segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Grito pela cultura

Em contraposição ao grito de "independência", nasceu o Grito dos Excluídos: para questionar que soberania nacional é esta em que o Brasil, por interesses estrangeiros, deixa de investir em setores estratégicos e que mexem diretamente na vida de milhões de pessoas, exatamente aquelas que mais precisam.

Por que, nessa ‘independência ou morte’, uma minoria ficou com a independência e todo o restante do País, com a morte?

Em 2016, o tema do Grito dos Excluídos é ‘Vida em primeiro lugar’ e o lema, ‘Este sistema é insuportável: exclui, degrada, mata!’. Em Boa Vista, a manifestação começa às 8 horas, do dia 7 de setembro, na Praça do Centro Cívico.


Entre tantos gritos, por reforma política, direitos das populações marginalizadas, etc., é preciso gritar também pelos direitos culturais, porque como cantam os Titãs, “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte, [...] a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão, balé.”

É preciso gritar para que a cultura deixe de ser usada pelos governos só para animar suas festas e entreter os convidados e passe a ser parte de uma forte política de desenvolvimento humano.

Então, vamos lá, gritar pela cultura?

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Cinema: pela educação do olhar dos dirigentes políticos brasileiros

Por Éder Rodrigues[1]

Assim como em outros segmentos artísticos e culturais, as pesquisas e os dados recentes do cinema brasileiro parecem ser desconhecidos (propositalmente) de parte da classe política brasileira nas esferas do legislativo e do executivo. As mais de 60 entidades que compõem o maior fórum de discussão sobre audiovisual no Brasil, o Congresso Brasileiro de Cinema (CBC)[2], há muito tempo vêm cobrando ajustes nas políticas públicas para o setor e produzido uma agenda contínua para discutir produção, distribuição, exibição, difusão, preservação, formação de público, formação profissional e pesquisa em cinema no Brasil. 

O desinteresse de agentes públicos nos Estados e municípios faz com que se enfraqueçam as políticas culturais construídas em âmbito federal destinadas ao segmento. Tem responsabilidade também a própria classe de realizadores e exibidores em suas regiões e Estados que, nesse processo, muitas vezes desconhecem a própria força. A alternância de poder e qualificação da representação das entidades de base são sempre bem vindas nesse processo democrático de formação política. Aliás, o mesmo princípio serve para o legislativo nacional e local.

Um exemplo dos números que podem ajudar nas formulações de políticas públicas é a quantidade de festivais que ocorrem todos os anos no Brasil, colocando o país como o recordista da América do Sul, de acordo com o Fórum de Festivais[3]. No entanto, ainda é preciso rever neste particular, por exemplo, a regulamentação de direitos autorais e ampliar o apoio aos festivais consolidados e em processo de consolidação, incluindo na pauta os Estados que estão ‘fora do grande eixo’ que desejam ingressar na cultura de festivais. É o caso de Estados da fronteira Norte.  


Para ampliar a discussão e formular políticas mais adequadas à realidade atual faz-se necessária a educação do olhar do gestor público para considerar os números e atender da melhor forma possível às demandas do cinema em todas as regiões do País. Neste sentido, temos assistido a criação de plataformas virtuais, nas esferas pública e privada, que socializam dados estatísticos e pesquisas importantes para aferir o mercado brasileiro, investimentos, audiência, mapeamento da produção, circulação de filmes e outras informações relevantes[4]. É claro que muitas delas se limitam a catalogar os dados ditos “oficiais”, como por exemplo, o impacto de filmes exibidos em conjuntos ou salas “multiplex”, desconsiderando os filmes independente, exibidos e discutidos em cineclubes, salas alternativas, pequenos cinemas, comunidades, favelas, lajes, universidades e na própria internet.   

O Estado deve ser o protagonista nesse processo de socialização das informações e das pesquisas, sem esquecer que a própria categoria organizada precisa fazer sua parte também. Por isso, na perspectiva governamental, é preciso insistir na reestruturação do Ministério da Cultura, a partir da aplicação de um sistema de gestão compartilhada entre a Secretaria de Audiovisual (SAv), a Agência Nacional de Cinema (Ancine), a Cinemateca Brasileira e o Centro Técnico do Audiovisual (CTAV), valorizando experiências exitosas, como, por exemplo, as ações de capacitação do Centro Audiovisual Norte Nordeste (CANNE/FUNDAJ)[5], que tem contribuído decisivamente nos últimos anos com a formação técnica de profissionais. O luto momentâneo pela extinção do Ministério fez com que artistas se mobilizassem e pressionassem o Governo até sua recriação, devolvendo à Cultura o status de ministério. Por isso, tais discussões precisam voltar à pauta.

O Estado tem papel decisivo no avanço das políticas culturais para o audiovisual. No entanto, há algo que deve vir antes disso: a contínua luta do segmento cinematográfico na defesa dos seus interesses em nível internacional, nacional e local. Arthur Autran de Sá Neto, na sua tese apresentada na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), intitulada “O pensamento industrial cinematográfico brasileiro” (2004), já demostrou que historicamente o cinema no País não se desenvolveu economicamente, em comparação a outras indústrias culturais. Da regionalização de incentivos para a produção até a circulação/comercialização do produto cinematográfico, o Brasil vive essa novela sem fim.

As tentativas fracassadas para implementar uma indústria do cinema, na imitação do modelo de produção de Hollywood (EUA), de fato são estudadas por Sá Neto, bem como diversos outros autores e críticos conhecidos no Brasil, como Jean-Claude Bernadet, Glauber Rocha, Alex Viany, Paulo Emílio Salles Gomes, Maurice Capovilla, Gustavo Dahl, Silvio Da-Rín, dentre outros. Desde os anos 20, as políticas protecionistas e de financiamentos são meras tentativas governamentais de consolidação de uma indústria do cinema no Brasil, que apenas ofereceram pequenos ‘surtos de industrialização’.

Acrescentamos aqui, mais uma vez, a importância da militância da classe cinematográfica, uma vez que tais tentativas governamentais parecem sempre descoladas das múltiplas realidades brasileiras. São decisões tomadas em gabinetes, com cara de “consulta pública” ou “conferências nacionais”. Talvez essa falta de “audição” explique o fracasso repetitivo. Aqui não podemos esquecer a produção independente que luta por espaço, por meio da revisão e ampliação da atual cota de tela em salas de cinema. Outra novela!

Os desafios do audiovisual são comuns a todas as regiões do Brasil e a consciência de classe se torna fundamental. Claro que nos Estados do Norte e Nordeste a situação da produção é mais agravante por uma série de especificidades. No caso do Norte, onde está a Amazônia brasileira, fazer filmes torna-se um desafio que exige muito mais fôlego. As distâncias (terrestres e fluviais) são continentais, o clima é sempre uma surpresa, assim como a incidência do sol e a depreciação dos equipamentos de filmagem.

Se os períodos de chuvas são intensos, ainda temos as questões de fronteira geográfica. Filmar qualquer história nesses espaços exige estar antenado às demandas de produção em lugares sem suporte rápido de pessoal especializado ou tecnológico, considerando a contratação de uma boa equipe local que conheça os desafios da região. Passos largos para a qualificação do produto audiovisual podem ser dados por meio do esforço de vários atores, incluindo o segmento organizado e as universidades, na criação de cursos de graduação e pós-graduação em Cinema e Linguagem Audiovisual no Norte do País, que incentivem a pesquisa e as experiências de campo, incluindo recursos para programas de extensão universitária em comunidades tradicionais. Assim, veremos outros Brasis surgirem nas telas.

A luta pela defesa de uma proposta de repactuação do segmento para ampliar a participação nas instâncias de decisões políticas precisa estar na pauta do meio cinematográfico em todos os níveis, e com embasamento. Sindicatos, associações, universidades, artistas de outros segmentos culturais precisam se mobilizar cada vez mais no sentido de compreender que o audiovisual é, sim, um grande instrumento pedagógico que revitaliza o conhecimento e forma opinião. Esperar isso do Governo Federal é um risco.

Os números, positivos ou negativos, estão à nossa disposição. Democracia audiovisual só faz sentido se tiver na base uma política cultural pensada para todos. Para isso, precisa-se de planejamento. E claro, investimentos.


[1] Jornalista profissional, sociólogo, documentarista, integrante da Rede Audiovisual de Roraima e membro da Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-metragistas (ABD&C - Curta Roraima). ederaudiovisual@hotmail.com