segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Festival de Música de Rorainópolis foi palco para desrespeito com a cultura local

O VII Festival de Música de Rorainópolis (Festmur) era para ser magnífico, mas parece que foi só pra Joelma ver. Pelas informações de diferentes fontes, enquanto os artistas nacionais foram tratados a pão de ló, os artistas locais passaram por maus-tratos.

As denúncias são muitas: uma delas é que músicos da banda base, contratados para tocar durante a apresentação dos candidatos, não foram pagos. Sem receberem ao menos metade do cachê, como ocorreu com as atrações nacionais, recusaram-se a trabalhar no terceiro e último dia do festival. E com toda razão. Afinal, não é assim que a banda toca. Há reclamações também sobre falta de fornecimento de alimentação para os integrantes da banda, além de não pagarem como prometido a hospedagem para músicos de outros municípios.

Da mesma forma, há relatos de falta de estrutura mínima para os candidatos, que teriam ficado sem cadeira para sentar e sem água. Eles teriam sentado em caixas, atrás da estrutura de som, porque os camarins eram exclusivos para as bandas nacionais.

“Foi dito que seria anunciado o resultado final após a apresentação da banda Magníficos e acabaram divulgando apenas três resultados, sendo que ainda tinham outros quesitos a serem julgados”, relatou a espectadora Arlessandra Bibiano.

Indignado, o cantor Ernandes Dantas teria subido ao palco para exigir respeito pelos candidatos. Mesmo assim, o resultado final foi divulgado somente por volta das seis horas da manhã. “Nem chegaram a chamar os artistas ao palco. Fizeram uma divulgação simbólica”, declarou Arlesandra.

O prefeito Leandro Pereira reconheceu ao Blog do Luiz Valério que o resultado foi divulgado “bem tarde”, mas assegurou que todas as premiações, assim como a classificação, foram anunciadas de acordo com o edital. Nem a página, nem o perfil no Facebook da prefeitura ou do prefeito de Rorainópolis divulgou o resultado oficial do Festmur.

Um dos candidatos, que pediu para não ser identificado por temer perseguição, disse que a organização “sumiu” com as avaliações dos candidatos, sem saber explicar o que houve, o que teria causado o atraso no anúncio do resultado. Além disso, pelo menos três dos cinco membros do júri não teriam conhecimento técnico de música e, portanto, não teriam condições de participar do processo de avaliação.

Segundo Ernandes Dantas, no último dia do Festmur, os dez classificados para a grande final foram informados por um dos organizadores de que teriam que se apresentar às 19 horas “nem que tivesse apenas um cachorro assistindo”. “Isso foi de um desrespeito monstruoso para conosco”, avaliou. Depois de protesto dos artistas, o horário foi modificado para as 22 horas.

Ernandes Dantas considera que foi feita campanha política no festival, que é um evento público. “O festival foi um dos maiores eventos políticos da história”, comentou o cantor. No perfil da Prefeitura no Facebook, há um trecho do discurso do prefeito na abertura do evento. Ao Blog do Luiz Valério, o prefeito usou a velha estratégia de desqualificar o denunciante: “Ele [Ernandes Dantas] nem ficou classificado”.

Sobre o mérito da denúncia, o prefeito Leandro Pereira tirou o corpo fora: apesar de dizer que a responsabilidade pelo pagamento aos artistas é da empresa contratada para organizar o festival, defendeu a empresa, com a alegação de que o Ministério da Cultura somente libera os recursos após a realização do evento e que as atrações nacionais foram pagas com recursos de patrocínio.

Já a versão do responsável pela empresa contratada para realizar o festival, Bruno Dantas, é diferente: ele informou ao Blog do Luiz Valério que houve atraso na liberação dos recursos pelo Minc por causa dos feriados e o dinheiro deve ser liberado após o Dia da Consciência Negra, 20 de novembro.

“Como eu não recebi um real sequer e fui eu que realizei o evento, todo mundo será pago quando eu receber”, declarou Bruno Dantas, ao Blog do Luiz Valério. De forma contraditória, o empresário informou ao mesmo blog que estavam providenciando o pagamento dos músicos para ser feito “antes mesmo do recebimento dos recursos do Ministério da Cultura”. Bruno Dantas classificou a denúncia como factoide.

De acordo com extrato de contratos publicado no Diário Oficial da União no dia 14 de novembro de 2017, a M E D Comércio e Serviços Ltda. foi contratada por cerca de R$ 400 mil para realizar o VII Festmur. No Diário Oficial da União, de 20 denovembro, foram publicados extratos de inexigibilidade de licitação, de contratação de cinco artistas para o festival, que, ao todo, somam mais de R$ 40 mil.


Os recursos para o Festmur são avaliados em R$ 485 mil. O festival estava previsto para os dias 19, 20 e 21 de outubro, para comemorar o aniversário do município, mas foram adiados para novembro por causa da tramitação do projeto no Ministério da Cultura. Rorainópolis completou 20 anos de criação no dia 17 de outubro.

#LutoPelaCulturaRR

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Lançado com sete meses de atraso, edital da Lei de Incentivo tem problemas novos e antigos

A edição de 2017 do edital da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, lançada sete meses após o prometido (deveria ser em março deste ano, mas foi em outubro), atende a pleitos antigos da sociedade civil, é verdade, como a possibilidade de inscrição pela internet e um período razoável de inscrição (agora são cerca de dois meses). Mas também traz de volta problemas que pareciam superados.

Um deles é a falta de divulgação antes do início das inscrições. Neste ano, o período para as inscrições começou oficialmente no dia 23 de outubro, sendo que o edital foi publicado no Diário Oficial do Estado somente no dia seguinte (24 de outubro). Parece piada, mas é isso mesmo!

A partir de proposta da sociedade civil, os editais de 2015 e 2016, por exemplo, previam um período de tempo entre o lançamento do edital e o início das inscrições, reservado para a divulgação do edital nos municípios.

Por que isso é importante? Porque, de modo geral, os projetos são avaliados de acordo com a ordem de inscrição. Os primeiros inscritos são analisados antes e, consequentemente, aprovados primeiro. Com isso, podem começar a ser executados mais rapidamente. Além disso, a falta de divulgação prévia prejudica os pequenos produtores culturais e artistas, que não tem estrutura para elaborar um projeto em curto espaço de tempo, o que acaba comprometendo a inscrição e a aprovação dessas propostas.

Outro problema: nesta edição, a inscrição é exclusiva pelo site da Secult. Inscrições presenciais e por correio não são mais aceitas, o que dificulta a participação de produtores culturais e artistas com dificuldade de acesso a computador e à internet, principalmente do interior, historicamente prejudicados pelas exigências excludentes dos editais da Lei de Incentivo.


E tudo isso (a inscrição passar a ser só pela internet) foi feito abruptamente, sem período de transição, por exemplo, com a possibilidade, por alguns anos, de inscrições presenciais e por internet, até que os candidatos paulatinamente estivessem preparados para inscrições exclusivamente por internet.

#LutoPelaCulturaRR

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quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Audiência pública sobre políticas de cultura em Boa Vista será no dia 23 de novembro

A audiência pública na Câmara Municipal de Boa Vista para discutir políticas públicas para a cultura no município já tem data marcada. Vamos?
O requerimento para a realização da audiência, aprovado pela Câmara, foi encaminhado à Mesa Diretora pelos vereadores Renato Queiroz, Linoberg Almeida e Marcelo Lopes, em atendimento à demanda apresentada, por meio de carta, pela sociedade civil organizada. A carta foi entregue no dia 29 de setembro deste ano, durante a Audiência Pública sobre o Plano Plurianual (PPA) de Boa Vista, realizada na Câmara Municipal.

Deverão ser convidados para a audiência a Fundação de Educação, Turismo, Esporte e Cultura de Boa Vista (FETEC), o Conselho Estadual de Cultura, entidades civis e a população em geral.

Na carta, os segmentos artístico-culturais também solicitam: 1) apoio dos vereadores a todas as emendas destinadas à cultura; 2) que os recursos sejam destinados via editais, em discussões com os segmentos; 3) criação do Conselho e do Fundo Municipal de Cultura.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Boa Vista: podemos te dar um Conselho? (Parte 2)

Éder Rodrigues*

Um Conselho Municipal de Políticas Culturais é o fórum ideal para discutir o investimento em cultura e contribuir com um plano mínimo que democratize o acesso aos recursos públicos, fazendo crescer e aparecer a cultura plural de uma cidade.

É por meio dele que podemos também compreender que o artista cria e recria o mundo. Aliás, um mundo “Outro”. Mais intenso, mais significativo ou mais provocativo. Em resumo: menos sem graça.

Na contramão disso, vemos no cotidiano de Boa Vista, o investimento na reprodução de um modelo da chamada cultura de elite. Elites são fechadas em seu mundo e não pensam em classes sociais. Estão em um mundo limitado, alienado, reduzido a uma “arte espetáculo”, sob a velha desculpa que “isso já ocorre há muitos anos”.

O que dizer do mundo real? Boa Vista, como o Brasil inteiro, tem na diversidade sua maior riqueza. Exemplo disso no âmbito local é o crescimento gigantesco dos movimentos de cultura urbana ou arte urbana.

Coletivos como: MakuX, AbankaToda Rap, V.A.N Crew, Movimento Urbanus, Duclan Rap, assim como estudantes e professores universitários, dentre outros interessados, surgem com as mesmas demandas – recriar o mundo pela arte. Todos refletem uma cidade cujo espaço urbano proporciona novas relações sociais e artísticas. E vice-versa.

Os conceitos de “centro” e “periferia”, na perspectiva urbana, podem existir para explicar a “desigualdade” (observemos Boa Vista que é um laboratório ao ar livre sobre isso). Mas não servem para explicar as “diferenças”.

Gestores públicos parecem não entender o meio vivido por estes movimentos culturais e, por isso deixam também de compreender o lugar. Todos os lugares são centros de fenômenos da experiência humana. Os movimentos artísticos urbanos sabem disso.
Fonte: Divulgação/Folha Web
O sucesso do Circuito Tom Souza de Skate realizado em Boa Vista, com o campeonato de skate e que contou com a batalha de MCs e Grafites na homenagem a este líder do movimento Long Board; a seleção para o duelo de MCs categoria nacional; a realização do ‘Grafita Roraima’ pela Universidade Federal de Roraima, que tem reunido artistas da Venezuela e Roraima, já formam um público de quase duas mil pessoas, se somados todos estes eventos realizados recentemente.

São números que confrontam o discurso oficial do poder público municipal, que tem ainda em festas como natal, arraial, carnaval e agora “motocicletas” um olhar carinhoso e bem generoso. Estes merecem apoio sim. Mas e os outros?

Nossos aplausos vão para todos os artistas que fazem do dia a dia, da rua, das praças, das escolas e universidades seu campo de ação. Que venham mais intervenções urbanas, mais performances, mais consciência e um Conselho Municipal de Políticas Culturais competente.

* Jornalista, sociólogo, especialista em Marketing e servidor da UFRR.

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Para ler outros artigos de Éder Rodrigues, acesse:

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Boa Vista: podemos te dar um Conselho? (Parte 1)

O processo democrático de tomada de decisões está comprometido no Brasil. Gestores públicos deixam de fazer um trabalho mais transparente, mais participativo e mais efetivo quando não há participação das pessoas. 

Em contrapartida, aquelas que querem participar deste processo não encontram espaços para o debate. O resultado? O desgaste natural de todas as instituições de poder e o esvaziamento da confiança no âmbito, federal, estadual e municipal. 

Na cultura, artistas e agentes culturais têm nas mãos um instrumento eficaz na comunicação com o grande público, na educação, na formação da opinião pública, do debate democrático e no fortalecimento do sentimento de pertencimento de uma sociedade: a arte!

Por isso, sugerimos ao Executivo Municipal de Boa Vista (RR) que dê um passo histórico no fortalecimento da democracia, considerando a importância das instituições e a participação popular: a criação do Conselho Municipal de Cultura.  

Para demonstrar esta necessidade, vamos publicar uma série de artigos aqui, falando de uma cultura viva e pulsante que existe em Roraima. Paralelo a isso, vamos relatar ações que estão ocorrendo sem o mínimo de apoio ou atenção. No entanto, é aqui que está nossa força coletiva: no trabalho para formação de público, na resistência, na simpatia das pessoas e das famílias que apoiam muitos trabalhos realizados com recursos próprios ou com recursos de outras fontes, uma vez que não existem fundos para cultura local.

Vamos falar das culturas populares, de grupos de cultura e arte urbana, da capoeira, do nosso patrimônio imaterial e material, do cinema, literatura, música, artes visuais, teatro, dança e muito mais. Não temos a pretensão de dar respostas imediatas, mas de promover o debate na perspectiva da diversidade, de mostrar dados desta pluralidade cultural e de aprofundar nossas raízes.

Gosta de arte e cultura? Venha fazer parte desta luta!

#LutopelaculturaRR

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quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Cultura em Boa Vista: agora é que são elas

A Comissão de Articulação e Acompanhamento das Políticas Públicas para a Cultura esteve reunida com o superintendente de Cultura da
Fundação de Educação, Turismo, Esporte e Cultura de Boa Vista (FETEC), Enos Almeida, na quarta-feira, 4 de outubro de 2017. Representantes do Fórum de Dança também entraram na roda.

 A reunião é um marco de um momento novo de consciência política, união e proposição de pauta de políticas culturais na capital, pela sociedade civil organizada. Na oportunidade, os militantes da cultura apresentaram as seguintes demandas:

1) necessidade de criação do Conselho e do Fundo Municipal de Cultura;

2) necessidade de construção da política pública de cultura, com diálogo entre a PMBV e a sociedade civil, em momentos como a audiência pública sobre políticas culturais e o debate da Lei Orçamentária Anual (LOA), na Câmara Municipal;

3) críticas ao fazer histórico da política de cultura municipal limitada aos carnavais, arraiais e natais.

Mesmo com a lentidão dos processos burocráticos do serviço público, o superintendente destacou conquistas na FETEC como:

a) aquisições de equipamentos para o Teatro Municipal e a intenção de inauguração ainda neste ano, com o fim de servir de espaço para construção de calendário para ocupação;

b) elaboração de editais, previstos para novembro, em diálogo com o MINC, no valor de R$ 25 mil, para atender aos segmentos de teatro e música de raiz. Segundo Enos Almeida, a liberação do recurso depende do Ministério da Cultura;

c) o superintendente garantiu que no dia 18 de outubro deste ano colocará na pauta com a prefeita Teresa Surita e equipe, durante reunião mensal de gestão da PMBV, a necessidade  de avançar com a criação do Conselho Municipal de Cultura, item inserido no plano de trabalho da prefeitura, ainda que não tenha sido prometido na campanha eleitoral;

d) com a alteração no regimento da FETEC, em setembro de 2016, agora a fundação pode formalizar  convênios para serem aplicados na cultura e pleitear verbas de outras fontes, como Agência Nacional do Cinema (Ancine).

#LutopelaculturaRR

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Em exposição no Parque Anauá, obra de Cardoso já sofreu censura moral

Atualmente em exposição, na galeria de artes Luiz Canará, em Boa Vista (RR), a obra A Leda e o Cisne (2004), do artista plástico Augusto Cardoso, já foi banida de uma galeria em Manaus (AM). Segundo o próprio autor, por censura moral.

Fonte: Blog Falar de Arte
“A Leda e o Cisne é um clássico renascentista. Eu quis representar em Leda a quebra da inocência, ao partir o seu colar de pérolas. Representei alguns elementos universais, mas que tem tudo a ver com Roraima: tem riquezas, o ouro é oferecido. As chaves podem aprisionar ou libertar o homem. Vejo que elas abrem a nossa cabeça. São a sabedoria. A gaveta aberta é o passado: nela tem as lembranças. Se ela estiver aberta, as verdades também estarão. Mas também pode representar a busca por respostas. O Portal do Milênio abre dimensões, possibilita viagens para outros tempos e verdades”, explicou em 2011 o artista plástico, em entrevista à pesquisadora* Adriana Rangel.

A Leda e o Cisne é uma história da mitologia grega, que inspirou releituras como as de Leonardo da Vinci, Michelangelo e Salvador Dalí. Segundo a mitologia, a jovem Leda, recém-casada com Tíndaro, rei de Esparta, foi seduzida por Zeus, metamorfoseado em cisne. Dessa união, Leda chocou dois ovos, dos quais nasceram quatro filhos: dois do marido; dois de Zeus. Um dos filhos é Helena de Troia.

A obra Leda e o Cisne, de Augusto Cardoso, foi premiada na 10ª edição do Anuário Brasileiro de Artes Plásticas (2011), da Editora Roma Internacional.

Outro trabalho de Cardoso que já foi alvo de polêmica é o projeto Via Sacra, com 15 quadros, com Jesus em nu frontal, exposto na Igreja Matriz Nossa Senhora do Carmo, em Boa Vista.

Trajetória Di Cardoso – A Leda e o Cisne faz parte da exposição Trajetória Di Cardoso, com 45 trabalhos inéditos e antigos, produzidos entre 1984 e 2017. A exposição marcou a reabertura da galeria de artes Luiz Canará, no Anfiteatro do Parque Anauá, no dia 29 de setembro de 2017, e ficará aberta ao público até novembro, de terça a sábado, das 10h às 20h. A exposição percorrerá outros locais como Palácio da Cultura Nenê Macaggi, Palácio Senador Hélio Campos e um shopping de Boa Vista.

Augusto Cardoso é autor de mais de mil obras, algumas em acervos privados e públicos de museus, como o do Vaticano, e embaixadas no Brasil, Venezuela, Itália, Argentina, Holanda, Japão, França, Canadá, Áustria e Estados Unidos.

* Tese de Mestrado em Letras da UFRR ‘Cultura e identidade híbrida na obra do artista plástico roraimense Jorge Augusto Cardoso’ (2012), de Adriana Moreno Rangel.

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